A visão de que empreender se resume a ganhar dinheiro está ultrapassada. O entendimento atual é o de que o empreendedorismo deve ser uma proposta de vida, uma maneira de evoluir, de tornar sonhos realidade e de as pessoas se realizarem como seres humanos. A definição é do professor doutor José Dornelas. No dia 24 de outubro, uma quarta-feira, ele esteve em Maringá, para participar do Simpósio sobre Educação Empreendedora. O encontro, na sede do Escritório Regional do Sebrae, reuniu cerca de 60 secretários municipais, diretores, pedagogos, professores e servidores públicos da área da Educação das cidades da área de abrangência da Associação dos Municípios do Setentrião Paranaense (Amusep).
Engenheiro, formado pela Universidade de São Paulo, com mestrado e doutorado também pela USP, Dornelas atua há mais de 20 anos no universo da Educação Empreendedora. Nessas duas décadas, ele acumula experiência na execução de projetos voltados para alunos do ensino básico até acadêmicos de universidades. Na figura de um dos principais especialistas brasileiros no assunto, defende ser necessário “despertar” o espírito visionário, que cada um carrega adormecido dentro de si. “Temos que pensar grande. Precisamos ampliar nossa visão de mundo. Devemos abraçar causas que gerem valores para a sociedade”, destaca.
No ensino básico, foco do simpósio de Maringá, Dornelas ressalta que a Educação Empreendedora é fundamental para proporcionar um aprendizado que a criança vai levar por toda a vida. Por meio de oficinas práticas, os alunos trabalham os conceitos do empreendedorismo de forma lúdica. “Equilibramos o brincar com o atingir metas e alcançar resultados”, comenta. Ele afirma que a metodologia, “baseada no agir”, contribui para reduzir as frustrações, por causa dos erros cometidos. “Mostramos que errar faz parte da nossa trajetória. Que ninguém é super-herói. Buscamos identificar as origens das falhas, para reforçar a ideia de que apenas ter vontade é insuficiente para vencer os desafios. Provamos que as vitórias são a soma do conhecimento, das habilidades e das atitudes. Que, apenas, os competentes são bem-sucedidos”, frisa.
Estímulo
O gestor da Linha Estratégica de Ambiente de Negócio do Sebrae, na Regional Noroeste, Marcos Aurélio Gonçalves, explica que o simpósio é uma forma de estimular o maior número possível de prefeituras da Amusep a adotar a Educação Empreendedora na rede municipal de ensino. “Quanto mais cedo a semente do empreendedorismo for plantada nas nossas crianças, mais cedo vamos colher os resultados”, declara. Gestor da Linha de Educação Empreendedora, Wendell Gussoni, acrescenta que as mudanças provocadas pela metodologia “impactam” na realidade local. “As atividades do programa são contagiantes. As crianças aprendem ser possível realizar. Basta agir e tentar. Também passam a conjugar o nós acima do eu”, diz.
A coordenadora da Câmara Técnica da Educação da Amusep, secretária de Mandaguari, Adenise Batista Rodrigues, avalia que o simpósio atingiu os objetivos. Ela acredita que os participantes conseguiram dimensionar a abrangência do projeto, esclareceram dúvidas e conheceram experiências colocadas em práticas na região. Um dos casos de sucesso apresentado, durante o simpósio, inclusive, foi do município dela. É o dos alunos da quinta série da Escola Municipal Francisco Romagnole Júnior que, neste ano, conquistou o Prêmio Sebrae de Educação Empreendedora. As crianças escolherem estudar a história do empresário Abimael Martins, dono da Bima Lanches.
Ex-aluno e ex-integrante da fanfarra da escola, o empreendedor reside e instalou a lanchonete no Jardim Progresso, bairro onde o colégio está localizado. De origem humilde, Bima é uma referência na cidade, quando o assunto é lanches. O empresário se destaca por produzir o hambúrguer, que serve para os clientes. Durante as atividades do programa Pedagogia Empreendedora, do Sebrae, Abimael ensinou as crianças a prepararem os hambúrgueres e levou o grupo para conhecer o local de trabalho dele. “A escolha de um empresário próximo da escola foi proposital. Para mostrar que, quando queremos, conseguimos transformar nossas vidas. Basta acreditar nos nossos sonhos”, destaca Adenise.
Comportamento
Outra experiência apresentada no evento foi a de Maringá. A secretária de Educação, Valkíria Trindade de Almeida Santos, contou que o Município adotou o Pedagogia Empreendedora em 2011. Até 2016, o programa beneficiava os alunos do primeiro ao terceiro ano. A partir de 2017, foi ampliado para os estudantes das quartas e quintas séries. Atualmente, a metodologia está presente em 315 turmas de 37 escolas da rede municipal e é praticada por mais de 7.700 crianças. “As atividades refletem no comportamento dos alunos. Ajudam na solução de conflitos. Demonstram que a coisas simples também nos levam à realização pessoal. Enfim, ajudam no desenvolvimento das pessoas”, declara.
Encerrado o simpósio, Valdir Antônio Miosso, secretário de Educação de Nossa Senhora das Graças, ficou interessado em buscar mais informações sobre a Educação Empreendedora. Ele afirma que os resultados são impressionantes. A coordenadora Pedagógica da Secretaria de Educação de Uniflor, Marilene Aparecida Lima, fez uma avaliação semelhante do evento. Os dois desconheciam a metodologia. “Pelos relatos, é possível implantá-la nos nossos municípios”, concluíram.